Friday, June 02, 2006

Trabalho referente ao filme Minority Report: a Nova Lei

O filme Minority Report ilustra um problema longamente debatido na história da filosofia: o problema do livre-arbítrio. Tomando por base a apresentação desse problema feita em aula, bem como das posições paradigmáticas defendidas no contexto dessa discussão – i.e., o libertarismo, o determinismo, e o compatibilismo (em suas variadas expressões) – reflita sobre quais são as condições para o funcionamento do sistema Pré-crime: ele se baseia em alguma espécie de determinismo? Por quê? Considere também qual é a concepção da ação humana que está implícita nesse filme: há, em sua opinião, algum espaço para a possibilidade do livre-arbítrio? Por quê? E que tipo de liberdade estaria em jogo?

Para auxiliar na resposta, segue a transcrição de quatro diálogos nos quais esses temas aparecem mais explicitamente – mas cabe salientar que esses não são os únicos contextos relevantes, e que vocês podem e mesmo devem buscar mais elementos para justificar e ilustrar suas respostas.

Diálogo 1 (na sala central da Unidade Pré-crime)
John Anderton (o policial), Jad (o assistente de John), e Danny Witwer (o investigador)

Jad: Os Pré-Cogs indicam o crime, o nome dos envolvidos é gravado. Cada peça tem forma e desenho únicos, impossíveis de falsificar.
Witwer: Tenho certeza de que você entende a objeção legal ao método do Pré-Crime [...] nós prendemos indivíduos que não infringiram lei alguma.
Jad: Mas eles infringiriam. O compromisso é metafísico. Os Pré-Cogs vêem o futuro e nunca se enganam.
Witwer: Não é mais futuro se o impede de ocorrer. Isso não é um paradoxo fundamental?
John: Sim é. Você está falando sobre predeterminação, o que acontece o tempo todo.
[Bola rolando sobre o balcão, Witwer a apanha.]
John: Por que você a apanhou?
Witwer: Porque ela a cair.
John: Tem certeza?
Witwer: Claro.
John: Mas não caiu. Você a apanhou. O fato de você ter impedido algo de acontecer não não muda o fato de que esse algo ia acontecer.
Witwer: Já lidou com falsos positivos? Alguém tem intenção de matar e não o faz. Como os Pré-Cogs distinguem?
John: Eles não vêem intenção, só o que se vai fazer.

Diálogo 2 (idem)
John e Witwer

John: Diga-me exatamente o que quer.
Witwer: Falhas.
John: Há 6 anos não há um assassinato. O sistema é...
Witwer: Perfeito. Concordo. Se há uma falha, é humana. Sempre é.

Diálogo 3 (na estufa de Iris)
John e Iris Hineman (a bióloga responsável pelos Precogs)

Iris: Os Pré-Cogs nunca se enganam. Mas, às vezes... eles discordam um do outro.
John: O quê?
Iris: Na maioria das vezes, os três vêem um fato da mesma maneira... mas, de vez em quando, um deles vê diferentemente dos outros.
John: Deus do Céu. Por que eu não sabia?
Iris: Porque destroem-se estes Registros Dissonantes (Minority Reports) assim que aparecem.
John:
Por quê?
Iris: Obviamente, ara o Pré-Crime funcionar, não pode haver o menor indício de falibilidade. Quem ia querer um sistema judiciário que incute dúvidas?
[...]
John: Quer dizer que prendi pessoas inocentes?
Iris: Digo que, de vez em quando, os acusados pelo Pré-Crime... poderiam ter um destino alternativo.
John: Responda-me: Lamar Burgess sabe sobre os Registros Dissonantes?
Iris: Sim, claro, ele sabia. Mas, na época, entendemos que eles eram uma variante insignificante. John: Para você, talvez. E para as pessoas com destinos alternativos que eu prendi? Deus, se o país soubesse...
Iris: O sistema desmoronaria.
John: Eu acredito no sistema.
Iris: De verdade?
John: Você quer derrotá-lo.
Iris: Você o derrotará se conseguir matar sua vítima. Seria uma amostra pública espetacular de como o Pré-Crime não funciona.
John: Não matarei ninguém.
Iris: Pense assim.

Diálogo 4 (no hotel em que John encontrará Leo Crow)
John, o gerente do hotel, e Agatha (a principal Precog)


Gerente: O quarto é 95 por noite.
John: Posso ver os registros?
Gerente: Não pode.
John: [apontando uma arma para o gerente] E agora?
Gerente: Fique à vontade.
John: Ele [Leo Crow] está aqui.
Agatha: Anderton, vá embora. Você tem escolha. Vá embora. Agora.
John: Não posso. Tenho de descobrir o que houve com minha vida.
Agatha: Por favor.
John: Agatha, não vou matar o sujeito. Nem mesmo o conheço.
[...]
John: Não tenho um destino alternativo. Vou matar esse homem.
Agatha: Você ainda tem escolha. Os outros nunca viram o próprio futuro. Você ainda tem escolha.

1 comment:

Anonymous said...

Podemos dizer que pode haver um certo tipo de determinismo moderado ou um libertarismo onde as decisõess são racionais e alteram o curso de acontecimento?
Acho que depende se lamar burgess tinha um relatório miniritário ou não